terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Depois do fim


"It's time the tale were told
Of how you took a child
And you made him old..."


Enfim... eles se separaram. Parece que tiraram um peso das costas.
E agora, dois anos depois, ele está casado novamente. Ela não. Talvez estivesse, se realmente quisesse. Mas não quis.
Tomou outro rumo. Voltou a ser o que era, ou nem tanto...
Em onze anos as pessoas mudam. Contando que passaram-se mais alguns... é... ela não é mais a mesma. Nem a de antes, nem a de depois (aquela que ele conheceu). Veja só no que ela se transformou:  em uma mistura dos dois...
A vida é realmente muito "engraçada". Ontem eles eram um casal -"os dois contra o mundo". Hoje, não passam de estranhos com uma história em comum. Apesar de toda "herança" que ele deixou pra ela, um não faz mais parte da vida do outro, às vezes, nem em pensamento.
É como voltar ao início, antes dos dois se conhecerem, muitas vezes estiveram perto, talvez nos mesmos lugares, cruzaram a mesma calçada, falaram com as mesmas pessoas, tinham os mesmos amigos, mas não davam conta da existência um do outro. Depois do fim, a mesma situação se repete, mas agora há uma história construída a dois que ficou guardada no passado, numa espécie de baú bagunçado do pensamento em que não pode ser remexido. Não ainda...
Mas um dia os dois cruzam um pelo outro na rua, na mesma calçada... é, esse é o cara que significou um monte pra ela, aquele que provocou mudanças sérias em sua vida, nesse dia ele passa por ela acompanhado, ali, na mesma calçada,  talvez nem a perceba... essa pessoa, que está acompanhada por outra, é certo que levou um pouco dela no que se tornou agora... mas ele tem outra vida, convive com outros, está em "mundo paralelo", não partilha mais do mesmo que o dela, apesar de estar ali, bem em sua frente, na mesma bendita calçada...
Às vezes ela se pega pensando nele e sente uma nostalgiiiiaaa... muitas dessas vezes quis saber como ele estava, se de vez em quando ainda lembrava dela...
Logo no início, depois do fim, quase tudo que fazia, ou que via ou que acontecia ao seu redor, dava vontade de contar pra ele, de compartilhar, de saber o que ele achava... a gente se acostuma, sabe?! Não raro, isso ainda acontece...
É... tudo passou tão depressa!
Enfim, ela nunca esquece.
Na verdade, é bem mais que isso. É como respirar. Não dá pra fazer de conta que nada aconteceu um dia. Isso se tornou parte dela, não importa o que vier, não importa quem vier.
Não há como se desfazer do passado e de tudo que ela aprendeu nesses últimos anos...
Veja bem, isso não significa que ela quer revivê-lo.
Tão estranho lembrar de alguém que não morreu, mas que se apartou de ti, como se tivesse ido pra uma outra dimensão...
O que antes ela julgava ser sua outra metade, hoje, não é mais.
É assim mesmo, sabe?! E não é que a vida continua?! 
"Ninguém morre."

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Sobre um post no Face: Erros de Pontuação.


Ontem fiquei intrigada com a tal vírgula separando o sujeito do verbo em uma frase de um outdoor da Coca-Cola. Veja posts anteriores no meu mural.
O que me deixou mais boquiaberta foi o fato de este outdoor ter sido criado por uma agência "fodona" aqui de Porto Alegre, a DCS (segundo informações postadas aqui do site Propaganda RS pela Karina Piazenski).
Enquanto eu não sabia qual era a agência responsável por este "erro", me pus a criticar ferrenhamente, defendendo com unhas e dentes que não se coloca vírgula entre sujeito e verbo. Por quê? Ora, pois! Para mim isso era uma regra e quem trabalha com comunicação tem a obrigação de saber. Outra coisa é que a gente sempre acaba atribuindo esse tipo de erro a um "Zé da Esquina".

Mas, quando me dei conta dos responsáveis pela campanha, como disse em um dos comentários, "me caiu os butiá do bolso"! Não porque cheguei à conclusão de que até os fodões erram. Mas, sim, porque pensei: "eles não podem ter errado deste jeito! Há algum propósito nisto tudo! Não foi de graça aquela vírgula (desnecessária) separando o sujeito do verbo!" Justamente porque a DCS é considerada uma agência top, já ganhou vários prêmios, e o mais importante: tem grandes contas, o que torna sua responsabilidade cada vez maior.

Por este motivo, voltei ao meu "Guia Prático do Português Correto" - vol 4, do professor Cláudio Moreno, para tentar descobrir qual o propósito desta incomodativa vírgula enfim, já que uma certeza eu tinha, não deveria estar ali.

Para explicar melhor, primeiramente transcrevo alguns trechos sobre as mudanças que ocorreram desde a Idade Média pra cá, sobre a finalidade da vírgula:

“... houve mais que uma simples mudança na regra; o que ocorreu foi uma mudança radical na concepção dos motivos para pontuar. A pontuação baseada nas pausas vem do tempo da Idade Média, quando o Ocidente ainda não havia introjetado o hábito de leitura silenciosa. Todos liam em voz alta,  e os sinais de pontuação serviam, portanto, para marcar as pausas e as entonações."

"À medida que a leitura passou a ser silenciosa (e, por esse motivo, muito mais rápida), deixou de ser necessário fazer a marcação das pausas, liberando a pontuação para outra finalidade muito mais importante: facilitar ao leitor o reconhecimento instantâneo da estrutura sintática das frases."
(Guia Prático do Português Correto - vol 4, de Cláudio Moreno. Porto Alegre, L&PM, 2010)

Então, antes a vírgula marcava as pausas; agora sua finalidade é facilitar a leitura e a compreensão.

Um trecho que achei interessante destacar sobre isso:
"...todo sinal implica em uma pausa, mas nem toda pausa tem seu sinal correspondente." (Português para Convencer, de Cláudio Moreno e Túlio Martins. São Paulo, Ática, 2006.)

Continuando, pelo o que pude apreender das coisas que li, não posso defender que é uma regra usar a vírgula entre o sujeito e o verbo, mas sim, não é aconselhável. É desnecessário. Mas não posso dizer que eles (o pessoal lá da Agência) erraram, visto que, apesar de a pausa estar dada, mesmo não precisando da vírgula, muitas pessoas ainda continuam com a ideia antiga. É como as coisas que aprendemos com nossos antepassados e que continuamos repetindo sem questionar. Se eles sempre fizeram assim e deu certo, por que não fazer?! "Não coma melancia com leite, faz mal." Até você se acostumar com a ideia de que isso não procede, leva tempo.

Pensando nisso tudo, acho que este outro trecho do livro do professor Cláudio Moreno, resolve bastante o que acontece hoje.
Aqui ele responde a uma dúvida de um leitor inconformado com a insistência de alguns em colocar vírgula entre o sujeito e o verbo. Segue:

"...posso assegurar que a escola não tem culpa nenhuma. Não é por falta de aviso que os brasileiros cometem esse erro, pois todo professor de Português que conheço vive combatendo essa vírgula com a pouca energia que lhe resta. O segredo está, na verdade, na primeira parte da pergunta: por que alguém teria vontade de pôr uma vírgula bem naquele lugar? A resposta é muito simples: o responsável por essa estranha mania foi o ensino da pontuação baseado nas pausas, que vigorou por muitos séculos e chegou, ao menos no Brasil, até a alegre década de 60, ainda no século XX. Já foi comprovada a espantosa influência que nossas primeiras professoras exercem sobre as crenças que teremos sobre a linguagem ao longo do nosso percurso para a Vida Eterna. Aquilo que ouvimos nas primeiras letras vai nos acompanhar pela vida afora - para o bem ou para o mal -, e poucos são os que conseguem questionar os ensinamentos recebidos naquela tenra e feliz idade. 
Ora, se perguntarmos a qualquer brasileiro onde fica a pausa mais acentuada da frase, ele vai apontar exatamente para aquele espaço privilegiado que separa o final do bloco do sujeito do início do bloco do predicado. Se você quiser testar, convença duas pessoas a ler as frases abaixo em voz alta e preste atenção no local em que elas vão fazer uma pausa mais marcada:
Os quatro jogadores da Seleção # chegaram ontem a Barcelona.
O rato, o burro e o leão # resolveram firmar um pacto de amizade.
Posso apostar que todos os leitores farão a maior pausa bem onde eu pus o #. É evidente que não podemos pôr uma vírgula aí - mas são tantos os brasileiros que sucumbem a essa perigosa tentação que este é, sem dúvida, o nosso erro mais comum em pontuação. A culpa não é deles: formados que foram pela teoria que associava as pausas com os sinais de pontuação, acham muito natural pespegar ali aquela vírgula que todos condenamos - o que obriga os professores a lutar quotidianamente contra ela. Em outras palavras, é como se distribuíssemos caixas de fósforos a todos os macacos da floresta e passássemos o resto da vida a apagar os incêndios que nós mesmos provocamos."
(Extraído do livro Guia Prático do Português Correto - vol 4. Cláudio Moreno. Porto Alegre, L&PM, 2010)

Pois bem, acho que está explicado o motivo pelo qual erros de pontuação, como este do Outdoor da Coca-Cola, acontecem.
No início introduzi o assunto afirmando que, pelo o que apreendi do que li, não posso dizer que eles estavam errados. Mas chegando até aqui, vou me contradizer. Afinal, neste processo de escrever e rever o que eu havia lido acabei percebendo coisas que eu não "tinha me ligado" antes.
Se a finalidade da vírgula mudou e, hoje é aconselhável que não a coloque entre o sujeito e o verbo, continuo acreditando na inutilidade da tal vírgula naquele Outdoor e acho que a partir disso, posso sim, dizer: está errado! 

A propósito, escrevi este texto hoje pela manhã, pois fui dormir com este assunto na "caixola" e acordei pensando nele ainda. À tarde fiquei sabendo que admitiram o erro e que já estavam tomando providências para tirar a vírgula (pentelha) dali! Ufa! Tremenda responsabilidade essa nossa de atuar na área da Comunicação, hein?! Vai saber quantos erros vão encontrar neste meu texto também?! Bueno, acontecendo isso, por favor me avise e justifique, adorarei aprender um pouco mais. 

sábado, 7 de janeiro de 2012

Que tal Filosofia da Linguagem? "Posso falarrrr?!"


"O homem possui a capacidade de construir linguagens com as quais se pode expandir todo sentido, sem fazer ideia de como e do que cada palavra significa - como também falamos sem saber como se produzem os sons particulares."
Ludwig Wittgenstein


Eu havia escrito este trecho abaixo (talvez ingênuo, ainda não sei!) há alguns meses. Provavelmente tratei disso porque algo me irritou profundamente! To brincando, é que às vezes eu fico observando as pessoas mesmo e, claro, eu não fujo à regra, também fico com o meu "botãozinho ligado" pra tudo que to fazendo ou falando... e nunca me dei conta de que podia estudar filosofia da linguagem. Sem querer, "acabei caindo" em Wittgenstein e achei esta citação acima. Bem parecida, aliás, com o que eu percebo no convívio com os bípedes, definição carinhosa (estou sendo irônica) de Schopenhauer para a maioria dos humanos.

Não confio muito em citações retiradas da web, mas achei interessante e vou confirmar se realmente foi isso que o filósofo escreveu, ou ainda, se é dele mesmo. Por enquanto, vou manter como está! Prometo que assim que descobrir, me retrato e trago mais novidades sobre o assunto. 

Ah, e caso alguém que conheça o tema, esteja visitando meu blog e queira comentar, trazer mais informações, etc., por favor, faça isso!
Segue:

Muita gente atribui uma carga maior às palavras, certamente porque não tem intimidade com elas. Percebo que   dão um significado negativo, usam (ou deixam de usar) como uma espécie de xingamento.
Quer saber? Às vezes, as coisas são mais simples do que pensamos. Pega um dicionário, vai ler um livro, "experimente você também". O contrário também acontece, tem gente que tem "ejaculação precoce" de palavras e nem se dá conta do peso que isso tem. Aí depois, tenta ficar se explicando com um "não foi isso que eu quis dizer!" Sem contar quando se enfurecem porque seu interlocutor entende de outro jeito e acham que o cara tá complicando quando as dúvidas surgem... 
Eita bichinhos difíceis vocês, viu?!


Isso me lembra "O Trágico Dilema", de Mário Quintana:
"Quando alguém pergunta a um autor o que este quis dizer, é porque um dos dois é burro."

Tá, não vamos exagerar! Até porque esta frase, a mim, parece um tanto agressiva e questionável, justamente porque estamos decidindo que alguém é burro! Mas afinal, o que é ser burro? Por que chamamos alguém de burro? E mais, por que chamar alguém de burro, pode parecer agressivo? Há a possibilidade de não parecer agressivo? Será que minha entonação de voz, minha expressão facial influencia no modo como isso vai ser recebido? Eu acredito que sim, influencia, segundo minha experiência empírica...
Então?! Eis uma questão sobre o significado das coisas que a gente emite ou ouve. Complicado, não?!
"Por enquanto é só pessoal!"
Vou lá, estudar um pouco...