segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Aqueles dois

Não tem um só dia que ela não pense nele, que não sinta sua falta,  não sinta saudades do seu beijo. Nota: ela nunca o beijou. Ela sente saudades de coisas que não fizeram juntos, mas é tão intenso que pode sentir o gosto, o cheiro, o toque. Na vida real eles se abraçam, às vezes. Um dia ela foi lá e deu um abraço muito apertado nele, simplesmente porque precisava disso. Passaria o dia inteiro agoniada se não o fizesse. E quando eles se abraçaram, ela ficou leve outra vez...

domingo, 14 de agosto de 2011

A Regra de Ouro


Princípio ético universal:  “Não faças aos outros o que não queres que aconteça a ti” (Kant).

 






Aproveitando a viagem de uma hora, entre uma cidade e outra dentro de um ônibus, aquela menina lia seu livro.
Quase chegando a seu destino, embarca um rapaz com seu novo rádio mp3, desses que a gente pode ouvir bem alto, sem fones de ouvido. Seu repertório variava do pagode ao funk. Da minha parte, não tenho nada contra, desde que não me obriguem a ouvir. 
Essa é uma situação corriqueira, as pessoas apesar de sentirem-se profundamente incomodadas, não reclamam. Talvez por medo, ou ainda, por não querer arranjar confusão.
 Todos se olham contrariados, mas o guri que acha que está abafando, nem liga.
Depois de parar sua leitura e prestar atenção neste episódio, ela volta para sua história muito mais interessante e tenta se desligar. Porém, aquela música estridente, chata, com pretensos cantores choramingando, impede que ela se concentre.  Indignada, ela fecha o livro, olha para o corredor onde o menino está e faz um apelo:
- Por favor, dá pra tu colocar um fone de ouvido ou desligar este rádio? É que eu não to conseguindo ler...
O menino, com uma cara de mal, desafiando-a no olhar responde:
- E daee? Por que eu deveria me preocupar contigo? Nem te conheço aeee!
Ela levanta, vai até ele e diz:
- Por uma questão de ética. Pode ser? Ah, nãooo! Tu não deve saber o que é ética, não é mesmo? Tua preocupação deve ser apenas com “os mano e as mina” que tu “qué impressioná”. No teu mundinho medíocre, tu acha que impondo o teu mau gosto pra todo mundo que te rodeia, ta fazendo uma grande coisa, ta sendo gente. Mas eu vou falar a tua língua, “rapá”! – então, ela se aproxima um pouco mais dele e quase encostando o rosto ao seu, tira um revólver da mochila e aponta pro guri. Neste momento todos já estão de olhos arregalados e se esquivando, pensando que ela é louca.
O rapaz, com o revólver encostado abaixo do seu queixo, suplica:
- Peraí moça! Peraí! Cuidado com isso!
O discurso continua:
- Peraí o quê? Por que eu deveria me preocupar contigo? Eu nem te conheço!!! E aí?! Que tu acha disso?! Hein?! Hein?!
O menino concorda e resmunga um “aham, okay, okay”
 - Ética é isso meu irmão! A tua liberdade termina onde tu começa a prejudicar o outro, tá entendendo?! Tu tá entendendo, rapá?!
- Tá bom! Tá bom! Eu entendi!
- Por que tu não desligou essa porra ainda, guri?! Desliga isso! Vamo!
- Tá bom, tá bom, calma moça! Calma! Pronto já desliguei...
Sem desencostar o revólver, ela grita com o motorista:
- Para o ônibus que eu quero descer!
O homem para imediatamente, ela dá um safanão no guri e desce apontando sua arma em direção a ele ainda.
Todos respiram aliviados, murmurando uns com os outros, alguns não acreditam no que acabaram de presenciar, outros se divertem em silêncio. O cobrador saboreia uma espécie de vingança “por tabela”. Ela fez o que todos sempre tiveram vontade, mas nunca coragem. O menino, ainda em choque, se senta em um banco qualquer. O silêncio impera. A viagem segue.
Ninguém jamais esquecerá aquela aula prática da Regra de Ouro.
- Moça! Moça! Acorda, final da linha.


Em dias assim...


Sinto muita falta dele.
Alguns dias, mais do que outros.
Esse domingo é dia dos pais e eu não posso abraçar o meu.
Pra mim, não passa de uma data comercial, afinal, todo o dia é dia de homenagear quem a gente gosta.
Não achei que ficaria tocada por isso, mas não pude fugir de lembrar, de sentir saudade e de querê-lo por perto. Ah... se pudéssemos voltar no tempo e parar tudo...
O cara sempre foi muito durão, mas não menos carinhoso. Por baixo daquela "armadura de ferro", tinha o coração mais mole que já conheci, doce, sensível e amigo.
Foi um grande homem (era meu pai, né?! Dá um desconto!).
Quase tudo que me tornei devo a ele. Inclusive meus defeitos. Dizem que a gente repete as coisas que mais critica nos pais... pois bem, eis-me aqui. Quase igual.
Seria legal acreditar que, após a morte, a vida continua em outro lugar, principalmente porque ele acreditava nisso. Mas de verdade, não consigo. Fora que o safado não voltou pra me dizer como é...
Se ele voltasse iria abraçá-lo tão forte que não o deixaria mais sair de perto de mim.
Teria tantas coisas pra contar pra ele, tantas coisas que mudaram... afinal, são treze anos. Passa rápido, parece pouco, mas é um tempão, principalmente quando se relaciona o tempo à ausência.
Então?! Seria assunto que não acabaria mais!
Pô! Se ele voltasse, também teria que me contar, "qual foi a dessa viagem ae?" Que história é essa de que deus existe e é ele quem dita as regras? "Como assim ele resolveu que tinha que te levar e pronto, tá decidido?" Não mesmo...
Quando meu pai faleceu, o celular era só pós-pago, tinha que se inscrever pra conseguir um, e as ligações recebidas eram pagas! A internet recém estava querendo existir, pelo menos na minha vida.
Eu estava solteira, mas perdidamente apaixonada, só que não tinha noção do quanto. Cheguei a falar pra ele, mas ele também não tinha noção da gravidade do assunto... senão, ai de mim!
Ah! As Torres Gêmeas ainda estavam de pé e o Lula ainda não era presidente. Eu não tinha entrado na faculdade ainda, mas estava tentando passar na UFRGS, pela quinta vez. Tá, exagerei. Não foram tantas as vezes, pelo menos não até aquela época.
É meu velho, se tu voltasse pra me ver a conversa iria ser longa.
Mas esse deus aí que, vivem dizendo: "foi ele quem quis assim", não tem colhões pra fazer isso acontecer.
Eu continuo aqui,"vivendo" de saudade. Se não te encontro mais na vida real, pelo menos em pensamento, tua presença é constante.
E é claro que... a gente se encontra por aí, entre um sonho e outro.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

"Família, família..."

Hoje foi um dia estranho.
Não me lembro de meu irmão falar tanto como hoje. Tá bom, somos da mesma família, falamos alto, somos comunicativos, falamos rápido e sim, falamos muito.
Mas meu irmão dificilmente para pra conversar comigo. Quando ele está de bom-humor, ele conta coisas, mas já sei que não posso perguntar demais senão ele se irrita. Se bobear, ele para de falar.
Temos uma relação sensível. Sempre tivemos muito ciúme um do outro. Desde que ele nasceu, brigamos como cão e gato.
Minha mãe lembra que muitas vezes teve de se trancar no quarto para poder amamentá-lo, pois eu não deixava o pobrezinho mamar. Ora, a teta era minha, pô!!!
Eu era impossível, uma tirana. Ficava batendo na porta aos berros querendo meu mamá. Coitada dessa mãe que não sabia o que fazer com os dois pestinhas.
Mas ela não estava só não. Havia o meu pai. Este sim, botava ordem no galinheiro... quando falo em galinheiro, sempre me recordo do que minha mãe contou um dia. Disse que eu já morei num. Claro, ela exagerou. Quis dizer que a maloca era tão pequena, cheia de frestas e tal, que parecia um galinheiro. Hiperbólica minha mãe. Por ser cheio de frestas, o galinheiro - nossa casa - quando chovia era preciso abrir um guarda-chuva dentro pra não molhar o bebê. No caso, eu.
Ela sempre trata de me lembrar deste passado quando eu ensaio algum ataque de frescurite aguda. Faz tempo que ela não fala essas coisas pra mim. Acho que evoluí.
Aprontei muito quando era pequena, instinto de sobrevivência, sabe? Marcação de território, talvez. Coisas de criança. Gente que quando tomava refri na hora do almoço tinha que medir o líquido nos copos, fazer uma básica comparação colocando-os lado a lado. Ai de quem tivesse mais. Era uma bateção de boca... coisas de criança.
Eu sempre saía de casa apreensiva. Tinha certeza que quando me afastasse de meus brinquedos, lá estaria ele, aquele bebê chorão (porque ele era chorão), brincando com minhas bonecas. Tá, eu também brincava com seus carrinhos. Aliás, eu também tinha carrinhos. Mas ele não tinha bonecas. Acho que eu levava vantagem nisso dae, viu?!
Nós tínhamos uma gata chamada Mietzsche (quase Nietzsche! Nunca me dei conta! eheheh... acho que é porque nunca escrevi o nome da bichinha), um dia ela deu cria, "saíram vários gatinhos"... outro motivo pelo qual eu ficava apreesiva quando saía de casa. Meu irmão, diabinho na pele de um bebê gordo e chorão, gostava de dar banho nos bichanos. Sabe o que o lindinho fazia? Pegava-os pelo pescoço e mergulhava os coitadinhos no tanque cheio d'água. Um dia eu voltei de um passeio com minha mãe e lá estava meu irmão, deveras abalado, devo confessar, porque alguns gatinhos não resistiram a tanto asseio. Meu irmão afogou quase todos. O infeliz não entendia por que isso acontecia. Quanta tristeza eu senti naquela tarde... chorei tanto... traumatizei. Nunca mais esqueci tamanha crueldade. Cruel devo estar sendo agora em pintar tanta maldade naquele coraçãozinho. Coisas de criança.
Hoje, conversamos como nunca. O tempo todo em que estive lá visitando minha mãe e ele, falamos pelos cotovelos. Pra mim é algo inédito. Eu senti desse jeito. Falamos de muitas coisas, falamos dele, falamos de mim, falamos dos outros, falamos da vida. Hoje, mais do que em qualquer outra situação, me senti muito próxima a ele. Um momento mágico. Talvez ele nem tenha se dado conta do quanto eu estava aproveitando cada frase, cada olhar, cada expressão que ele fazia. Minha mãe, que sentou-se ao meu lado para tratar de alguns assuntos corriqueiros, ficou calada enquanto falávamos, tão calada que pegou no sono. Foi engraçado. Quando fui embora, lamentei não ficar mais um pouquinho. Mas na hora de me despedir não dei aquele abraço e aquele beijo que falam mais do que as palavras, sabe? Às vezes tu não tem o que dizer, mas um abraço ou um beijo resolve tudo. Um abraço ou um beijo reforça os laços, reforça o afeto, reafirma. No nosso caso, nem sempre é fácil dar isso ao outro. Somos toscos. Coisas de gente grande... Saí com a sensação de que este foi um dia especial, mas e se fosse o último dia? Eu não reafirmei meu amor. Saí desejando que eu ainda tenha muitas outras oportunidades de abraçar e de beijar. Saí desejando que não fosse o último dia. Isso não tem nada a ver com deus. Isso tem a ver com a vida. Eu não sei se vou estar aqui amanhã. Eu não sei se eles vão estar aqui amanhã. Por que não dizer "eu te amo"? Por que não dar um abraço ou um beijo? Não dói. Tenho certeza. Acho que todo mundo gosta de se sentir amado, de se sentir querido, né? Não é uma pergunta retórica, vai que alguém não goste...
Mas, isso é assunto para "outras viagens..."

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Lá se foi o domingo


 "I don't care if Monday's blue..."


"Putz! Amanhã já é segunda, cara". Sempre tem um pra lembrar disso. Fujo do tédio do domingo com a TV ligada, principalmente porque a cada hora que passa ou cada programa de merda que começa, me sinaliza que o domingo já era. Também porque, "vamos e viemos", tem coisa muito mais interessante pra se fazer num domingo, né?! Como faxinar a casa, por exemplo. Claro que nãooo! Isso não é interessante... tá, é necessário, de vez em quando é preciso arrumar a bagunça. Mas então, volta pra cá, o que eu estava dizendo mesmo? Ah, sim... como se não bastasse amanhã ser segunda-feira, é dia de voltar ao trabalho. Como se não bastasse ter que trabalhar, acabaram-se as férias na faculdade. Bom, tudo isso eu to sabendo, porém, contudo, entretanto, cada um que reclama de uma coisa ou de outra que sempre inicia na segunda, me parece que o peso das obrigações aumenta o dobro. Ôh gente que gosta de reclamar, viu?! Aqui do lado de cá, no meu mundo real, passei o dia todo sozinha, sem precisar usar a voz pra falar com ninguém, salvo quando falo comigo mesma (quem me conhece sabe que isso é normal). Porém, "virtualmente vivendo", melhor, convivendo, vi gente bastante hoje, uns nem sabem que eu estava ali dando aquela espiada (sim, né?!!), mas a maioria, quando o domingo vai findando, trata de me lembrar que a mamata está acabando. Pô! Que bom que eu tenho que trabalhar amanhã, que bom que eu tenho que voltar pra facul amanhã, que bom que amanhã é segunda, isso significa que não to desempregada, nem dependendo dos outros, que eu sou privilegiada por estar em um curso superior e, ainda, que eu to viva pra perceber que aí vem mais um dia pela frente. E tomara que eu continue. Viva (do verbo viver, mas pode ser também do verbo comemorar, #aloka).Vai saber... 
Mas bem que amanhã não precisava ser segunda-feira...