terça-feira, 27 de setembro de 2011

Desencontro

CAPÍTULO I - No Limiar
Então eles combinaram de ir ao cinema. Outros colegas já estavam a sua espera.
A caminho, trocavam mensagens. Eram apenas amigos, e assim continuaria sendo, até que ele resolveu dar o primeiro passo.
 "Desce no centro, vou te pegar. Senão vamos nos atrasar muito."

Surpresa ao ler aquela mensagem, invadida por uma espécie de contentamento, ela respondeu com um simples: "Tá. Ok!"

Enquanto o trem não chegava, seus pensamentos borbulhavam. Confusa e ansiosa, ela ficava ensaiando mentalmente o que iam conversar enquanto estivessem a sós. É que, quando estavam na presença de outras pessoas, era bem mais fácil ter desenvoltura, agir naturalmente; mas quando ficavam sozinhos um com o outro, o constrangimento tomava conta. É como se corressem o risco de descobrir algo um do outro só no olhar; havia um certo incômodo... Ninguém sabia e nem tentava explicar. Era mútuo, mas tanto um quanto outro apressava-se em disfarçar. Era medo que sentiam? Não se sabe...

Porém, agora os dois estariam de novo na presença um do outro, a sós, mas por opção - por uma questão de escolha.

Enfim, ela chega ao seu destino e quando desce na estação, lá estava ele a sua espera, mas havia alguém junto.
- Oi Mariana! Entra aí atrás.
Guto, que estava acompanhado por sua mãe, tratou de apresentá-la assim que Mariana entrou no carro.
- Essa aqui é a minha mãe Helena. Mãe, essa é a Mari.
As duas cumprimentaram-se, Mariana que estava sentada na parte de trás, não conseguiu disfarçar seu desapontamento com aquela situação. Ele notou, mas nada fez para mudar isso, até porque não sabia o motivo.
Mãe e filho foram conversando pelo caminho, enquanto Mariana se consolava tentando se convencer de que nada estava acontecendo mesmo entre eles dois. Ela estava sozinha nisso. Imaginava coisas demais, esperava demais. Ele era tão simples, não fazia parte do mundo dela, ele parecia nem se tocar, às vezes. Talvez não pudesse mesmo; afinal, se alguém estava fora da realidade, só podia ser ela. Decidida a parar de  "viajar" naquele pretenso romance, sublimou todos aqueles sentimentos que a perturbavam e conseguiu voltar ao normal.

CAPÍTULO II -  Variáveis Incontroláveis
Após ele ter enviado aquela mensagem, pensou: "agora já era! Não dá mais pra fazer de conta. Algo terá que ser dito."
Pegou o carro e saiu para buscá-la.
No meio da estrada, sua mãe liga e pede para que ele lhe dê uma carona do centro até o shopping. Contrariado, porém sem reclamar, ele busca sua mãe e vai esperar Mariana no lugar combinado. Pensa que talvez isso seja um sinal: "Não era pra acontecer" - fica chateado, mas aceita as coisas como elas se apresentam. Sempre pensa que tem um dedo de deus em tudo o que acontece em sua vida. Por isso, não se abala tanto. Confia.
Ele quase nunca se precipita. Deseja que as coisas aconteçam, mas não tem pressa: "Afinal, se é pra ser, vai ser!"

Mas, a ciência contraria a filosofia romântica dos sonhadores, apaixonados - quase poetas. Uma vez, eu ouvi falar que a paixão dura no máximo três anos (geralmente). Esse é o tempo suficiente para que as criaturas humanas se unam e cumpram seu papel no mundo: procriem e espalhem seus descendentes por aí. Perpetuem a espécie, enfim.
O macho, depois de realizada sua missão, precisa continuar aumentando sua prole e vai em busca de outras fêmeas aptas e compatíveis, dignas de auxiliá-lo nesta "dura" empreitada.
Claro, na prática não é bem assim, alguns casais continuam juntos por muito mais tempo, até porque existem outras coisas envolvidas, que só acontecem com a nossa espécie.
Mas, enfim como eu ia dizendo, a paixão dura em torno de três anos - se ela for correspondida.
Cientificamente falando, sem essa de "quem espera sempre alcança". E, apaixonados, sem essa de que "se é pra ser, vai ser".
Se os hormônios estão à flor da pele, a hora é agora. Quanto mais demora, mais "o corpo se convence" de que: "Não. Não é pra ser." Então, parte pra outra, porque a fila anda, meu bem.

Guto avista Mariana, acena para que ela venha ao seu encontro, primeiro sorridente, depois um pouco desconcertada.
- Oi Mariana! Entra aí atrás.
Ele notou que algo não havia ficado bem. Sentia-se um pouco culpado por não estar sozinho, mas não imaginou que isso pudesse afetar o humor de Mariana. Em sua pureza e ingenuidade, ele também às vezes pensava que estava sozinho nisso, afinal, ela tinha o dom de confundi-lo. Mudava de humor volta e meia. Hora estava muito próxima e disponível, hora distante e fria. Mas ele havia aprendido a lidar com isso de modo a conseguir manter a paz entre os dois. Nunca foi invasivo, tentava algumas brincadeiras para ver como ela reagia, mas não insistia muito. Cada um tem o seu tempo; Quem ama deixa ir; Tudo vai dar certo, eram frases que podiam definir um pouco de sua personalidade.

Seguiram em direção ao shopping, sua mãe não parava de contar histórias, os dois davam-se muito bem, era bonito de ver aquela relação, um cuidado, um afeto fora do comum.
Quando Helena despediu-se, Guto e Mariana entraram no estacionamento, num silêncio constrangedor. Para quebrar o gelo, Guto (sempre muito brincalhão) fez algumas palhaçadas. Enquanto desciam e caminhavam ao encontro dos amigos, falaram amenidades, compraram pipoca e foram assistir ao filme com o grupo.

CAPÍTULO III - Medo parte I
Sempre que ouço ou leio coisas por aí, gosto de reproduzi-las em determinadas situações, mas quase nunca sei dizer de onde elas saíram. As fontes que me desculpem, enfim.
Uma das coisas que li ou ouvi (não sei!) é que "não existe amor sem medo".
Uma frase como esta pode ser interpretada de várias maneiras, depende de quem a toma emprestada. Para esta história, me permito dizer que, se há medo é porque o amor "tá pintando na área!"
Geralmente, quando nos apaixonamos queremos mostrar o que temos de melhor, inicialmente. A parte ruim, deixamos para depois - quando já conquistamos mais intimidade e temos a (falsa) segurança de que não vamos mais perder o objeto do nosso amor.
Por medo de ser rejeitada, Mariana passou por muitas mudanças significativas de comportamento, tornando-se mais paciente e cuidadosa, menos passional. Não há como passar despercebida por isso, visto que ela e o amigo passaram a brigar menos, ou ainda, deixaram de brigar.
Mas ela não tem consciência deste medo - o de ser rejeitada. Acha que mudou simplesmente por necessidade, porque seu jeito de ser a prejudicava (o que não deixa de ser verdade).
Além disso, sente medo de colocar tudo a perder, de se precipitar, de estar confundindo amizade com amor. Medo de estar-se enganando.
Por isso, ela espera. Essa inércia, não deixa que as coisas aconteçam, nem para bem, nem para mal.
A incerteza de estar sendo correspondida faz com que ela simplesmente observe. De vez em quando, ela ameaça uma investida, mas logo se refaz e espera novamente.
Muitas vezes teve vontade de puxá-lo pelo braço, colocá-lo contra uma parede e dizer tudo que está acontecendo com ela, apesar de não saber definir exatamente o que é.
Ela apenas precisava que ele soubesse e enfim resolvesse essa agonia...

Nunca esperou que fosse recíproco, apenas queria falar. Assim saberia lidar melhor com isso. Mas, por que ela não tomou essa atitude ainda? Por que é tão difícil ser objetiva? Medo! Medo! Medo! 

"E se ele se assustar? E se ele se afastar? Não entender?! Não. Melhor deixar quieto. Tudo que eu podia fazer para ele notar, já fiz. Todos já sabem, todo mundo vê! Impossível ele não ter notado... até já falaram pra ele... Não. Se ele realmente quisesse, daria um jeito. Às vezes ele me ilude, parece sentir o mesmo, mas depois recua e me deixa sem chão..."

O medo transfere a responsabilidade para o outro. Assim, fica cômodo. Assim, continua-se no mesmo lugar seguro - onde nada acontece.

CAPÍTULO IV - Medo parte II
Guto, uma vez, por medo de ser feliz, abdicou de um relacionamento que tinha tudo pra dar certo. Ele acreditava que era jovem demais para tanta responsabilidade. Queria aproveitar a vida. Mas, seu conceito de viver era um pouco distorcido naquela época. Então ele resolveu que queria conhecer muitas outras meninas, outras possibilidades, sair, se divertir, curtir tudo que pudesse e se fosse pra ser, quem sabe um dia, eles voltariam e seriam felizes.
Enfim, isso não ocorreu e cada um seguiu seu caminho.
Aconteceu há bastante tempo, mas ainda hoje ele se lamenta e se culpa e, de vez em quando, imagina como teria sido sua vida se outra escolha tivesse feito.
Todo romântico, às vezes parece clichê, por isso apesar de tudo, ele sonha com o dia em que encontrará seu novo amor - "a mulher de sua vida". Seria perfeito se acontecesse de repente, algo que fosse arrebatador... isso o tornaria um homem completo porque afinal, ele encontrara sua outra metade.
Guto não é tão cego que não tenha percebido algo novo acontecendo. Não foi do jeito que ele havia planejado, mas não pôde deixar de notar. Além do mais, sempre há alguém dizendo pra ele se dar uma chance, olhar para os lados, não procurar tão longe. Ele sabe que essa amizade é especial. Mas todo cuidado é pouco. Os dois são muito diferentes, é uma situação muito delicada - vai que alguém se machuque?! E se... e se... e se...
O medo disfarçado de prudência faz com que ele aguarde, observe, reconheça o campo (muito provavelmente minado) onde está pisando.
E o tempo não para... Enquanto isso, Guto também espera.

CAPÍTULO V - No Cinema
Os colegas sempre arrumam um jeito de colocar os dois lado a lado nos bancos que escolhem. Apesar de não ser uma boa ideia (já que eles não param de falar um segundo), parece que o pessoal torce para que algo aconteça. Porém, não há empurrãozinho que resolva este impasse.
Tudo que acontece ali ou em qualquer lugar, quando os dois estão juntos, poderia ser facilmente interpretado apenas como algo que faz parte de uma grande amizade e... só.
Ninguém tem certeza de nada. Ninguém arrisca nada. Todos esperam.
O filme acaba e o grupo sai para comer algo. Todos se divertem e depois cada um segue seu rumo.

CAPÍTULO VI - Final
"Quem espera sempre cansa."
Em casa, Guto pensa em tudo que deixou de fazer. Se dá conta do medo que tem de arriscar, de se expor, de ir de encontro ao desconhecido. Sabe que ainda podia ter feito algo e que isso mudaria tudo. Mas teve medo e decidiu confiar.
"Nada é por acaso", acreditava ele.
"Não vou me precipitar, vou esperar."
Para Mari, aquele dia foi a gota d'água. Era o que faltava para que ela se convencesse de que "não, não era para ser!" Definitivamente ela estava sozinha nisso e não queria mais sofrer. 
Voltou à realidade e enxergou que aquela amizade era sim especial, e que era desse jeito que continuaria sendo.
Pensou que ele não queria mesmo nada mais que isso. Lembrou que, a fila anda e que não há nada que o tempo não cure.





Um comentário:

  1. Mara, Maroca, Mariana?
    Tô cansando de entrar no teu blog, ler teus posts e me identificar com todos eles. Será que dá pra tu sair de dentro da minha mente, dos meus sentimentos e escrever coisas que digam respeito só a ti? Não te dei permissão pra falar do que sinto aqui. HAHAHAHAA!
    Cara, que coisa de louco. Tô na fase mais crucial da minha vida, em relação a isso. Digo, não digo? Arrisco, não arrisco? É pra ser, ou não? Tô esperando há muto tempo e não alcanço. Desisto?
    Sou o MEDO em pessoa, a incerteza em pessoa, o querer em pessoa, o gostar em pessoa... o amar em pessoa?
    Tô chegando ao meu limite nessa brincadeira de querer e nem ter como ter. Mas não sei como e nem se devo agir. Tô numa encruzilhada. Sou Guto e sou Mariana. Sou Lucas e não sou nada.
    Paixões duram 3 anos? Não quero sofrer mais 2 pela minha não-correspondida.
    Ou será que ela está sendo correspondida na mente do outro lado e eu não sei porque ninguém se arrisca? Podia ter um manual, né? Eu comprava. Podia alguém dizer pro outro lado, como disseram pro Guto, já seria um empurrão.
    Podia eu dizer. "E se ele se assustar? E se ele se afastar? Não entender?! Não. Melhor deixar quieto. Tudo que eu podia fazer para ele notar, já fiz. Todos já sabem, todo mundo vê!".
    Tô malz.

    Mas continuo te admirado muito. Tens futuro, Maroca. E tô contigo e não abro. Beijo grande, Lucas Adolfo.

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