sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Louca por Homem

Antes de vir morar em Canoas, há mais ou menos um mês, eu aproveitava a viagem lendo no ônibus e no trem. Uma de minhas escritoras preferidas é a gaúcha Claudia Tajes. Queria dizer que essa mulher  me faz passar vergonha. Não pela capa do terceiro livro que acabei de ler - Louca Por Homem - o que, de alguma forma, acabava sendo engraçado pelo jeito como as pessoas me olhavam quando eu entrava no coletivo com a obra na mão. É, era engraçado, apesar do constrangimento que sentia, parecido com a sensação de ir ao cinema sozinha pela primeira vez, sabe como é??? Vou te contar: provavelmente as pessoas não estão nem aí pra ti, mas parece que todo mundo tá te olhando e pensando, "que triste, vir ao cinema sozinha numa tarde de sábado... no mínimo é alguma encalhada, solteirona... deve ser uma chata, não tem nem uma amiga pra acompanhar..." - coisas desse tipo são o que a gente pensa que os outros estão especulando a nosso respeito. Pois é... Quanto à capa do livro da Claudia, eu sentia que as pessoas me olhavam e pensavam: "meldéus! Que tipo de pornografia é essa?...guria desesperada, no mínimo... tarada, só pode...esse mundo tá perdido...é bem o tipinho dela..." Em cinco segundos tudo isso passava pela minha cabeça. Ainda assim, tinha tempo de pensar que alguém podia estar traçando meu perfil desde o momento em que nasci até ali... 
Exageros a parte, fato é que eu me matei de rir (sozinha), enquanto a galera do coletivo (ou do trem) me olhava, com as histórias de uma doente de amor. Não foi a primeira vez, pois o mesmo aconteceu quando li Dez quase amores; me diverti muito também com Dores, Amores e Assemelhados, com certeza não será a última, pois ainda tenho que ler Só as Mulheres e as Baratas Sobreviverão, As pernas de Úrsula, A Vida Sexual da Mulher Feia (outro que "me daria trabalho" no trem!to terminando Vida Dura, mas esse daí to lendo em casa!
Enfim, adoro o ritmo, a forma, o jeito, como a Claudia Tajes escreve. É como rir das próprias desgraças! Não que eu me identifique... Afinal, "qualquer semelhança é mera coincidência" (hihihihi), mas ela explora e brinca com as mais diversas situações, mostrando o lado cômico da vida.
Em Louca por homem, com muito bom humor ela conta a história de Graça que, parafraseando a sinopse do livro da L&PM, troca de personalidade como quem troca de roupa - depende do homem de seu momento.
Pra quem ficou curioso, dá uma lida na introdução aí (que me permiti transcrever). Depois vai lá e compra, porque eu "sou ruim de negócio" pra emprestar, viu?!


"EU ANTES DE MIM
ACHO QUE COMEÇOU NA SÉTIMA SÉRIE, quando me apaixonei por um canhoto e não tive descanso enquanto não escrevi perfeitamente com a mão esquerda - ingênua tentativa de criar uma ligação com o objeto do meu amor, ainda que para isso eu precisasse jogar treze anos de destreza no lixo. Ou então foi antes, lá pelos meus oito anos, no instante em que percebi que um vizinho mais velho só usava roupas vermelhas. Foi o que bastou para eu ter longas crises de choro cada vez que minha mãe me ameaçava com um vestidinho rosa, verde ou amarelo, e o que determinou o eletroencefalograma ao qual fui submetida naquela época. Mulher prática, minha mãe diagnosticou minhas lágrimas como problema neurológico, e não amor.
       Ainda dentro deste tema, se eu entendesse de psicoassuntos como minha amiga psicanalista, a Diana, poderia voltar aos meus cinco anos e ao exato momento em que ouvi meu pai dizer que carne boa era carne com  osso. Consideração que me fez passar os trinta anos seguintes compartilhando costelas gordas com ele - sem sequer olhar para um filé -, com o objetivo de reforçar os laços de afeto entre nós dois.
       Pequenas coisas que fizeram de mim a pessoa que sou hoje. Uma canhota que só veste vermelho, come chuleta todos os dias e pode ser outra amanhã."

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