segunda-feira, 8 de agosto de 2011

"Família, família..."

Hoje foi um dia estranho.
Não me lembro de meu irmão falar tanto como hoje. Tá bom, somos da mesma família, falamos alto, somos comunicativos, falamos rápido e sim, falamos muito.
Mas meu irmão dificilmente para pra conversar comigo. Quando ele está de bom-humor, ele conta coisas, mas já sei que não posso perguntar demais senão ele se irrita. Se bobear, ele para de falar.
Temos uma relação sensível. Sempre tivemos muito ciúme um do outro. Desde que ele nasceu, brigamos como cão e gato.
Minha mãe lembra que muitas vezes teve de se trancar no quarto para poder amamentá-lo, pois eu não deixava o pobrezinho mamar. Ora, a teta era minha, pô!!!
Eu era impossível, uma tirana. Ficava batendo na porta aos berros querendo meu mamá. Coitada dessa mãe que não sabia o que fazer com os dois pestinhas.
Mas ela não estava só não. Havia o meu pai. Este sim, botava ordem no galinheiro... quando falo em galinheiro, sempre me recordo do que minha mãe contou um dia. Disse que eu já morei num. Claro, ela exagerou. Quis dizer que a maloca era tão pequena, cheia de frestas e tal, que parecia um galinheiro. Hiperbólica minha mãe. Por ser cheio de frestas, o galinheiro - nossa casa - quando chovia era preciso abrir um guarda-chuva dentro pra não molhar o bebê. No caso, eu.
Ela sempre trata de me lembrar deste passado quando eu ensaio algum ataque de frescurite aguda. Faz tempo que ela não fala essas coisas pra mim. Acho que evoluí.
Aprontei muito quando era pequena, instinto de sobrevivência, sabe? Marcação de território, talvez. Coisas de criança. Gente que quando tomava refri na hora do almoço tinha que medir o líquido nos copos, fazer uma básica comparação colocando-os lado a lado. Ai de quem tivesse mais. Era uma bateção de boca... coisas de criança.
Eu sempre saía de casa apreensiva. Tinha certeza que quando me afastasse de meus brinquedos, lá estaria ele, aquele bebê chorão (porque ele era chorão), brincando com minhas bonecas. Tá, eu também brincava com seus carrinhos. Aliás, eu também tinha carrinhos. Mas ele não tinha bonecas. Acho que eu levava vantagem nisso dae, viu?!
Nós tínhamos uma gata chamada Mietzsche (quase Nietzsche! Nunca me dei conta! eheheh... acho que é porque nunca escrevi o nome da bichinha), um dia ela deu cria, "saíram vários gatinhos"... outro motivo pelo qual eu ficava apreesiva quando saía de casa. Meu irmão, diabinho na pele de um bebê gordo e chorão, gostava de dar banho nos bichanos. Sabe o que o lindinho fazia? Pegava-os pelo pescoço e mergulhava os coitadinhos no tanque cheio d'água. Um dia eu voltei de um passeio com minha mãe e lá estava meu irmão, deveras abalado, devo confessar, porque alguns gatinhos não resistiram a tanto asseio. Meu irmão afogou quase todos. O infeliz não entendia por que isso acontecia. Quanta tristeza eu senti naquela tarde... chorei tanto... traumatizei. Nunca mais esqueci tamanha crueldade. Cruel devo estar sendo agora em pintar tanta maldade naquele coraçãozinho. Coisas de criança.
Hoje, conversamos como nunca. O tempo todo em que estive lá visitando minha mãe e ele, falamos pelos cotovelos. Pra mim é algo inédito. Eu senti desse jeito. Falamos de muitas coisas, falamos dele, falamos de mim, falamos dos outros, falamos da vida. Hoje, mais do que em qualquer outra situação, me senti muito próxima a ele. Um momento mágico. Talvez ele nem tenha se dado conta do quanto eu estava aproveitando cada frase, cada olhar, cada expressão que ele fazia. Minha mãe, que sentou-se ao meu lado para tratar de alguns assuntos corriqueiros, ficou calada enquanto falávamos, tão calada que pegou no sono. Foi engraçado. Quando fui embora, lamentei não ficar mais um pouquinho. Mas na hora de me despedir não dei aquele abraço e aquele beijo que falam mais do que as palavras, sabe? Às vezes tu não tem o que dizer, mas um abraço ou um beijo resolve tudo. Um abraço ou um beijo reforça os laços, reforça o afeto, reafirma. No nosso caso, nem sempre é fácil dar isso ao outro. Somos toscos. Coisas de gente grande... Saí com a sensação de que este foi um dia especial, mas e se fosse o último dia? Eu não reafirmei meu amor. Saí desejando que eu ainda tenha muitas outras oportunidades de abraçar e de beijar. Saí desejando que não fosse o último dia. Isso não tem nada a ver com deus. Isso tem a ver com a vida. Eu não sei se vou estar aqui amanhã. Eu não sei se eles vão estar aqui amanhã. Por que não dizer "eu te amo"? Por que não dar um abraço ou um beijo? Não dói. Tenho certeza. Acho que todo mundo gosta de se sentir amado, de se sentir querido, né? Não é uma pergunta retórica, vai que alguém não goste...
Mas, isso é assunto para "outras viagens..."

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